terça-feira, 11 de maio de 2010

Fake Me - Capítulo Cinco

Posted by: Mari
Date: quarta-feira, 12/05/2010
Playing Now: Symphony X - Sea Of Lies (tradução)

(Desculpem pelo atraso... Tive que sair com a Aline e acabamos bebendo demais...)

Identificar os problemas da turma. Estimular a interação entre todos os alunos. Ouvir as necessidades. Estimular debates entre os colegas a respeito dos problemas e levá-los ao consenso.

Isso estava na cartilha do Representante de Turma. Ela vinha em papel couchê com uma linda encadernação, amarrada com uma fitinha vermelha. Algo digno de guardar dentro da gaveta durante o resto da vida.

E com certeza, ótimo para a carreira.

Eu faria tudo para carregar esse pesado fardo de responsabilidade. Isso era para mim. Laura se divertiria muito mais no centro de convivência e na Sexta com Breja.

Os alunos votaram rápido. Não havia muito em que pensar. Era apenas eu, Laura e o pobre Cláudio.

Cláudio era um rapaz bem intencionado, mas nada popular. Era um daqueles nerds desajeitados, com óculos de 3 graus e meio, que você sempre vê nos filmes e pensa “toda turma tem um desses, não? Na minha tem”. Ele parecia competente, mas não tinha chances de vencer porque não tem presença.

Eu e Laura trocamos olhares quando as cédulas foram recolhidas e fizeram a contagem. Ela quase parecia confiante.

A cartilha enumera as vantagens para encorajar alunos a se interessarem pelo cargo. Eventos semestrais. Palestras com profissionais renomados abordando temas atuais. Acesso direto aos Coordenadores e Chefes de Departamento. Bolsa do Representante. Para Laura, tudo era muito tentador. Para mim, não faria diferença.

Contagem de votos, eles não tinham pressa alguma.

Laura fingia porcamente uma tranqüilidade que nunca terá quando estiver competindo comigo. Ela sabe disso. Sempre foi a primeira e agora encontrou alguém que não pode vencer. Então, finge ainda mais uma confiança que só suas amigas não percebem. Ou fingem que não percebem. Sorria, mão esquerda apoiando o queixo, corpo relaxado e inclinado para trás. Mas dedos nervosos deslizam pelo queixo. Um lápis é levado à boca. Algumas mordidas. Ela percebe o ato inconsciente e finge escrever algo. Pára e aperta o lápis, brinca com ele entre os dedos. Aperta os dentes.

Péssima em controlar emoções.

Ela encontrou alguém que não pode vencer. Exceto na eleição para representante da turma. Pela primeira vez, eu estava mais nervosa que uma rival. A diferença é que eu conseguia disfarçar bem. Sem contrações musculares. Sem movimentos aleatórios e sem objetividade ou repetitivos. Sem olhares fixos.

O Representante de Turma É solidário, entusiasta e idealista. A linda cartilha descrevia o representante ideal.

Eu ia perder. Uma semana inteira ansiosa por nada. Uma ansiedade que me custará caro. Talvez esse fosse o plano de Victor desde o começo. Ele e Laura sabiam a verdade e planejaram minha derrota na votação.

Eu ia perder.

O Representante de Turma identifica os problemas, tem bolsa de estudo e recebe uma cartilha de dar orgulho à família.

O Representante de Turma é ético.

“Mariane teve 23 votos. Laura teve 11 e Cláudio 5. Mariane, você é a representante da turma.”

A minha expressão de surpresa para esse tipo de ocasião foi bem ensaiada durante anos, mas essa foi autêntica. Talvez minha expressão mais autêntica desde que entrei na universidade. Uma surpresa tamanha que minhas amigas me olhavam como quem diz “o que?, achava mesmo que a Laura tinha alguma chance? Ninguém confia em alguém como confia em você”.

Todos me olhavam com sorrisos; alguns falsos, outros verdadeiros, uns sem graça. Mas todos sorriam.

Claro, não Laura. E nem Victor.

Laura me olhava com ódio. A ponta do lápis quebrou em seu caderno. Suas amigas que sorriam para mim falsamente olharam para ela preocupadas. Sabiam que não ia ficar barato.

Laura era agora minha vice. Isso a irritava mais do que a derrota. Aquela coisa se diz durante as olimpíadas. O pior de tudo é ganhar a prata. Significa que você quase venceu. Quase vencer é pior que perder.

E Victor... bem, vocês já devem imaginar. Ele ficou só parado, olhando para a porta, esperando com indiferença a hora de embora.

Laura e eu fomos encaminhadas para a sala do coordenador onde recebemos a belíssima cartilha, que listava as funções, vantagens e o perfil de um representante.

Devemos ser sempre positivos, construtivos e solidários. Devemos ser sempre justos e éticos. Um tipo de juramento do representante. Buscaremos sempre ser a mudança que queremos ver na comunidade.

Fui para casa saboreando como nunca saboreei uma vitória. Eu tinha certeza da derrota, já havia me entregado. Sinceramente, ainda não entendi como consegui ser eleita sem sequer pensar na votação durante a indicação.

Liguei meu computador e mandei um twitt para Aline explicando porque não apareci no centro de convivência. Atualizei alguns dos meus fakes no Facebook e abri meu e-mail pessoal.

Você recebeu uma mensagem.

Era raro receber e-mails naquele endereço. Abri. Passei os olhos e congelei em minha cadeira giratória; deixei o café cair da minha mão e queimar minhas pernas. Levantei em um pulo e gritei. Não pela queimadura, mas pelo que li:

De: Anonimo (gpnjefuo@gmail.com)
Para: Mari
Assunto: xD

Eu sei quem realmente é você e vou desmascará-la. Mas na ocasião certa. Apenas aguarde e aprecie seus últimos dias.

O café derramado manchou a linda cartilha. O Representante de Turma é ético. Agora eu sabia o que é vertigem.

Fim do capítulo cinco


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2 comentários:

Unknown disse...

Credo. Arrepiei aqui. Sério.

PsychoPris disse...

xD

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