quinta-feira, 29 de abril de 2010

Divagando

Pensando no que é a leitura para mim, desde a infância, finalmente começo a entender o que me fascina, e porque isso significa tanto para mim.

Nunca fui de ter muitos amigos, estava sozinha na maior parte do tempo. Eu não havia experimentado o que é estar ligado a alguém de verdade. E então eu lia... lia bastante, e viajava enquanto lia. Não apenas viajava para outro mundo, outro cenário, numa outra dimensão mostrada ali na história - eu também gostava disso, claro. Mas o lugar em que eu mais gostava de viajar era pra dentro de outras pessoas, no caso, do escritor.

Eu não sei exatamente por que, mas desde quando me lembro, eu tenho uma capacidade de entender quando leio. Não simplesmente entender as palavras ali apresentadas, mas entender quem as escreveu, ou pelo menos, entender o sentimento de quem escreveu. Recentemente um amigo me falou que isso é a razão de ser de um escritor, mas eu gostava de pensar que era um dom que eu tinha. Quando era menor, eu acreditava nisso. Que era um presente precioso que eu recebi. Um tesouro secreto.

E por isso eu lia e ficava ali, presa, mergulhada, fixada na leitura. Eu engolia me alimentando das palavras que vinham cheias de significado, cheias do escritor. Era uma coisa tão viciante! Uma alegria tão boa... tão simples. Preenchia meu coração. E significava muito pra mim. Era bastante atraente, o mundo das outras pessoas.

Eu quis escrever justamente por isso... eu pensava que poderia também dar o meu mundo a outras pessoas. Pensava que poderia expressar tudo aquilo que eu não conseguia de outro jeito. Pensava que ao escrever, eu conseguiria preservar, e nunca me esquecer daquelas coisas boas, mágicas, ingênuas. Aquelas coisas que quando a gente sente, pensa que vai durar pra sempre. Aquelas coisas que a gente quer proteger do mundo louco e sem sentido do lado de fora... o mundo que costuma roubar das pessoas justamente isso.

Além de guardar, eu também queria entender. Acreditava que ao tirar aquilo de mim, pondo no papel, eu poderia olhar de fora e entender tudo... tudo sobre mim mesma.

E foi isso que eu senti esses dias ao ler o prefácio do livro “À espera de um milagre”, de Stephen King. Ali, ele escreveu sobre sua vida, de como surgiu a idéia do livro, como ele foi construído, suas insônias, as histórias que criava em sua cabeça. E, puxa, me senti tão ligada àquela pessoa! Alguém que nunca vi pessoalmente, que não faz idéia da minha existência... E de repente eu estava ali, totalmente conectada àquele ser, compreendendo aqueles sentimentos descritos. Querendo que aquele momento de conexão durasse para sempre (risos). Parece uma coisa meio boba, não? Queria eu conseguir transmitir, pelo menos uma idéia longínqua, do que significa isso para mim.

Talvez seja porque eu entendo o que é ter insônia, o que é criar histórias na minha mente para suportá-la, entendo o que é sentir algo tão profundo e importante e querer dividir isso, não sabendo como. Ou talvez seja um resquício daquilo que a gente ouve muito: “estamos todos conectados”.

Não sei ao certo.

As pessoas sempre pensam que estão sozinhas, mas isso não é verdade. No fim, acho que existe mesmo esse negócio de todos estarem ligados de alguma forma. E esse mistério seria só mais uma daquelas coisas que a gente deixa para lá, ao longo da correria sem fim dessa vida sem sentido.

E acho também que essas coisas só se entendem quando se cria laços com alguém. Laços são essenciais. Afinal, quem nesse mundo pode viver sozinho?

terça-feira, 27 de abril de 2010

Fake Me - Capítulo Três

Posted by: Mari
Date: terça-feira, 27 de abril, 2010
Playing Now: Hoobastank - Did You? (tradução)

Uma das minhas técnicas favoritas para começar a elaborar a personalidade de um fake na vida real é utilizar os signos. Eles nos dão verossimilhança no comportamento entre diferentes áreas da vida. E eu precisava de um novo fake para atuar no ambiente univesitário.

Faculdade e colégio diferem muito nos pré-requisitos para conquistar o topo da popularidade. Ser um aluno dedicado é muito mais bem visto no campus universitário. No colegial, o que mais vale é a lealdade entre amigos e a capacidade de proporcionar diversão - principalmente envolvendo a violação de regras da escola. Enquanto os alunos de ensino médio aproveitam seus últimos anos de irresponsabilidade e despreocupação, repudiando atitudes excessivamente nerds ou sérias, o universitário já passou com sucesso pelo ritual do vestibular, que marca a transição da criança para o futuro profissional.

Esse processo – vestibular – como ritual que se preze, altera a consciência de qualquer um. Os valores impostos são outros. O desejo de aprendizagem, dedicação, liderança e seriedade, temperados com "diversão-anti-estresse" entre amigos, são os mais prestigiados na universidade.

Eu deixei tudo para a última hora. Improvisadora que sou, nunca me preocupo com decisões a tomar antes do tempo. Por isso escolhi o meu curso apenas no dia da inscrição para o vestibular. Eu já estava cansada do espírito fanfarrão da minha turma – sério, éramos do tipo que ficava de recuperação por faltas e só passávamos de ano porque eu sempre tinha colas para distribuir. Mas era entediante. Eu queria algo desafiador e inusitado. E claro, algo onde pudesse me destacar e dominar. Escolhi o curso de Direito porque o discernir é minha principal habilidade – e, como dizem, “o advogado é o homem do discernimento”. Conviver com pessoas que se julgam igualmente competentes nessa especialidade me pareceu desafiador.

Então decidi fazer o mais respeitável e amistoso fake, capaz de se relacionar todos com quem tivesse contato. Na faculdade é relativamente mais fácil, pois o espírito de competição velada cria por si só o ambiente propício para a falsidade. É o meu terreno e estaríamos todos em pé de igualdade, não fosse minha capacidade anormal.

Por esses motivos, escolhi criar meu "novo eu" com o signo de Virgem.

Mas eu tinha um desejo que percebi apenas no meu primeiro dia de aula. Eu queria conhecer alguém como eu. Depois de tanto tempo criando fakes sem nunca ser desmascarada, eu queria encontrar alguém que pudesse me ver como realmente sou e realmente me desafiasse a discernir-lo. Não que eu estivesse emotiva ou solitária. Eu queria um concorrente à altura. Estava entediada.

Não demorou até que encontrasse pessoas que queriam competir comigo. Indiretamente, a princípio, claro. Mas era nítido que algumas das pessoas quem se aproximavam de mim tinham o propósito de ganhar minha confiança enquanto mediam minha capacidade. No entanto, Laura foi a única que ofereceu alguma competição.

Laura é uma garota que desde o primeiro dia de aula na faculdade competiu comigo indiretamente. Aos olhos de todos, somos amigas e nos divertimos e estudamos juntas, mas eu sei que ela quer ser o destaque e, no fundo, ela me inveja e disputa comigo. E por ser linda e naturalmente desinibida, chama mais atenção dos rapazes que eu. Também é inteligente e se destaca nos trabalhos e decisões em grupo, sendo cotada para representante da turma. Ela sozinha é imcapaz de me superar ou fazer muito contra mim. Mas ela é influente e muitas garotas dão ouvidos ao que ela diz.

Embora eu sempre esteja um passo à frente, ela sempre surge em seguida, as vezes causando uma impressão mais forte. Ela é uma pedrinha no sapato que eu adoro pisar, mesmo que me machuque. Acho que ela também sente isso e permite que eu pise apenas para me perfurar um pouco mais.

Por isso ela procurou ganhar a atenção de Victor assim que percebeu meu ódio por ele. E como Aline tornou público a idéia de que Victor estava contra mim, Laura precisava estar ao lado dele.

Naquele dia, em que Victor me fez perder o controle, eu deixei de ir ao shopping com Aline, como havia prometido. Disse que estava me sentindo mal pelo que Victor fez comigo e que queria ir embora. Bem, isso não foi mentira.

Cheguei em casa desejando imensamente passar a noite inteira sozinha, na frente da tv tomando sorvete de chocolate. Não para me distrair; fazer coisas que nunca faço me ajuda a pensar.

Quando meu irmão chegou, dei um suspiro de desânimo, como quando alguem interrompe um momento precioso. Eu normalmente odeio ele quando preciso ficar sozinha. Pensei em ir para o meu quarto antes que ele comecasse a brigar pela tv - ele tem sua propria televisão no quarto, mas a tv de plasma é onde gosta de jogar seu X-Box. Mas, por um momento, olhei para ele e vi que também teve um dia ruim.

Ele se sentou do meu lado e ofereci sorvete.

"Você sabe que qualquer problema que tiver na escola, é só me falar que eu resolvo imediatamente, né?" Perguntei. Ele fez que sim.

Ficamos ali, assistindo um programa inútil e comendo a noite toda. Foi o tempo mais agradável que tive com ele desde o vestibular. Em dias assim, eu não vejo mais ninguém.

Fim do Capítulo Três


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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Stephen King - O Último Degrau da Escada

Stephen King é um dos meus autores favoritos porque ele consegue deixar impressas na minha mente suas personagens com seus dilemas e suas escolhas, de modo que passo dias refletindo. Gosto dos monstros e das coisas bizarras, mas as personagens são a melhor coisa em Stephen King.

O Último Degrau da Escada é um desses contos com personagens marcantes e um final chocante.

Primeiro porque é uma melancólica pintura sobre como as pessoas mudam. A historia, intercalando duas épocas diferentes, mostra com sensibilidade dois retratos distintos - a simplicidade da infância tendo pequenos e singelos tesouros como coisas importantes, dando lugar à sufocante e decepcionante vida adulta que faz perder de vista os antigos tesouros; a ingênua crença, trocada pela amargura; a amizade confidente, abandonada pela fria distancia; o que era belo e puro, destruído por uma realidade feia e cruel.

Segundo por mostrar como pessoas unidas por um laço têm o poder de confiar umas nas outras, não importando a situação, mas também como a falta de cultivar o relacionamento faz as pessoas se sentirem sozinhas e perderem a esperança.

E por ultimo, a velha máxima: só damos valor ao que realmente importa quando perdemos. Deixamos para depois coisas importantes mas aparentemente sem urgência até ser tarde demais. O que resta é o lamento pelo tempo perdido e carregar o peso da culpa por algo que não pode ser mudado.

Das historias do King, é uma das minhas favoritas por apresentar esse contraste. Afinal, não é essa a realidade de muitas pessoas?

Leia O Último Degrau da Escada do Stephen King e comente aqui no blog algo que você poderia acrescentar à lista. 

terça-feira, 20 de abril de 2010

Fake Me - Capítulo Dois

Posted by: Mari
Date: terça-feira, 20 de abril, 2010
Playing Now: Flyleaf - Breath Today (tradução)

Se você quer ter um fake para conseguir algo das pessoas, a primeira coisa com que você deve se preocupar é no que você - ou melhor, seu fake - representa para elas. Você precisa ser importante para as pessoas de quem quer algo. Quanto maior e mais complicado for seu objetivo, mais importante você precisa ser para os outros. Construa essa importância antes demonstrar aquilo que você realmente quer.

Invista um tempo conhecendo essas pessoas. Quando souber o suficiente a respeito delas, você precisa dar algo que elas querem. Sempre. Assim, você se torna alguém importante. Quanto mais eles quiserem algo de você, mais dependentes eles se tornam. Alimente essa dependência, deixe que eles se viciem em você até chegar ao ponto de você ser completamente indispensável ;p

Eu conheço Aline - vamos chamá-la assim - há cinco anos. Ela sempre foi a garotinha tímida e desajeitada, apesar de ser muito bonita e de ter uma família rica. Até os dezessete anos, ela tinha as pernas muito compridas, por isso sempre tropeçava em si mesma, fazendo todos rirem. Tudo isso a fazia o alvo favorito das meninas invejosas ou simplesmente más, mesmo o fato de ser rica.

Eu a conheci quando ela foi transferida para minha turma, na sétima série. Ela se sentava exatamente no meio dessas garotas que a maltratavam. Eu sempre tive o respeito de todas elas, mas as enfrentei e me tornei amiga da Aline. Era tudo o que ela precisava.

E era tudo o que eu precisava para ter uma aliada fiel já que as outras eram orgulhosas e ambiciosas demais para abrir mão da auto-suficiência.

Aline se tornou dependente da minha amizade. Como sua melhor amiga, dei tudo o que podia para ela se sentir bem, à vontade, até que pudesse ser ela mesma quando estávamos sozinhas. Era notável que ela poderia ter e fazer qualquer coisa, não fosse sua timidez e insegurança, mas isso eu não podia deixá-la saber. E quando prestei para a faculdade de Direito, ela foi comigo, pois não conseguia se imaginar fazendo um curso diferente do meu. Mas como esperado, ela não passou.

Todos os dias ela vem me visitar no campus, na hora do intervalo, e almoçamos juntas ou bebemos no centro de convivência, falando sobre o próximo vestibular que, com certeza, ela passaria. Não estaria na minha turma, mas poderíamos passar mais tempo juntas.

É culpa minha Aline odiar Victor. E juro, não foi totalmente intencional. Eu queria apenas ver a reação dela, e não gerar um ódio tão intenso.

Era fim de tarde e estávamos tomando cuba libre no centro de convivência. Como não temos bebida alcoólica no campus, a Aline levava o whisky para a mistura. Ela havia mudado o corte de cabelo e usava uma franja parecida com a minha. Vestia jeans e camisa branca lisa.

Conversávamos sobre a Teoria Pura do Direito. Era notável - para mim, claro - como ela se entediava com o assunto, mesmo tentando demonstrar todo o entusiasmo do mundo. Sorria e balançava a cabeça concordando, mas os olhares desviando e acompanhando qualquer movimento ao redor me deixaram claro que era hora de começar um assunto mais interessante.

Naquela tarde eu estava profundamente irritada com Victor. E naquele exato momento, o próprio apareceu no centro de convivência, com aquele irritante jeito despretensioso, ignorando os convites para se juntar nas rodinhas. Ele havia há pouco tempo me olhado durante meu discurso para representante da turma. Não foi um olhar comum.

Eu tinha escrito o discurso logo na primeira semana de aula, tendo certeza de que seria indicada por alguém. É muito melhor do que se candidatar. Fui indicada e minha apresentação foi perfeita, exceto pelo nervosismo que Victor me causou. Era como se a cada sentença, a cada vírgula do meu discurso, ele fosse capaz de olhar através das minhas máscaras e, com o olhar, dissesse:

“Você está mentindo”

Por causa disso, pela primeira vez, fiquei nervosa em um discurso. E, talvez, pela primeira vez uma eleição minha como representante estava comprometida. Auto-confiança sempre foi meu maior trunfo e eu a perdera.

Olhar para Victor ali, no centro de convivência, me encheu novamente de ódio. Ele era menos que um rato, precisava ser extirpado, e rápido!

Então “contei” à Aline como ele me “humilhara” durante meu discurso. Inventei as mais descabidas histórias de como ele riu e zombou de minhas boas intenções de melhorias para nossa turma. Eu não sei o que eu esperava que fosse acontecer. Aline não era nem mesmo aluna da faculdade, não iria fazer muita diferença dizer aquilo a ela. Mas talvez fosse um bom treino para minha historia, poderia contá-la a outros depois. Me empolguei e até me descontrolei um pouco exagerando nos detalhes. E, claro, chorei. Sempre fui boa em chorar.

Nessa hora vi uma Aline que não conhecia. Ela ficou enfurecida, foi até ele com o copo de cuba libre e gritou:

“Quem lhe dá o direito de maltratar minha amiga? Se você magoa-la de novo vai se arrepender de ter nascido".

Depois disso, jogou a bebida no rosto dele.

Todos ali, muitos da minha turma, olharam para Victor, com reprovação. Depois olhavam para mim apiedados. Eu era a vítima, ele o vilão.

Eu sorri de leve. Acho que foi só então eu percebi o quanto Aline me é fiel. Ela ainda me seria muito útil, principalmente se passasse para Direito. Algumas garotas vieram se sentar conosco e Aline acabou se tornando um tanto popular por sua coragem e lealdade à sua amiga.

Victor se levantou bruscamente, parecendo estar a ponto de agredir Aline e ficou imóvel. Todos olhavam para ele, assustados, os mais próximos esperando se seria necessário interferir em uma possível briga. Mas nada aconteceu, Victor olhou para ela de cima a baixo e saiu andando, tranqüilo, como sempre.

Ele não era mais tão popular por sempre preferir ficar sozinho. Ninguém gosta de ter convites recusados ou de pessoas explosivas. Ele estava se fazendo ser ignorado, e para ele, não havia problema algum nisso.

Então, eu faria com que fosse odiado.

Fim do segundo capítulo


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sábado, 17 de abril de 2010

Nota Sobre Periodicidade

Algumas pessoas me perguntaram sobre a periodicidade dos capítulos de Fake Me, então resolvi escrever um post sobre como vai funcionar o blog. Vai ficar assim:

Terça-feira: Dia de historinha. Toda terça terá um capítulo de Fake Me ou outros contos e crônicas que já estou preparando.

Quinta-feira: Dia de post sobre assuntos diversos - literatura, cinema, quadrinhos...

Então estes são os dias quando com certeza coisas novas estarão aqui para ler, sempre à tarde, até as 18h. Ou pelo menos vou me esforçar ao máximo para isso. Mas não significa que nos outros dias vai ficar tudo parado. Quando você menos esperar, aparece um post aqui e um ali, assim, caoticamente xD

E claro, estou sempre nas redes sociais falando bobagem e algumas coisas legais. O link dos meus perfis estão ali do lado, ó. Olha! >>>

Bjos e até a próxima ;*

terça-feira, 13 de abril de 2010

Fake Me - Capítulo Um

Posted by: Mari
Date: terça-feira, 13 de abril, 2010
Playing Now: Evanescence - Everybodys Fool (tradução)

Eu tenho uma habilidade especial. Não como em X-Men ou Heroes. É uma habilidade mental que me favorece muito. Eu entendo as pessoas.

Meu nome é Mari. Claro que este não é meu nome verdadeiro. Afinal, eu sou um fake. Criei este blog para escrever sobre minhas experiências e não quero ser identificada. E também não gosto de anonimato. As pessoas não ligam muito de falar com um fake, mas os anônimos sempre são encarados como covardes. Um fake sempre permite mais proximidade, mesmo que saibam que é um fake, só pela aparência de realidade. Uma foto já aumenta a sensação de se estar falando com uma pessoa real.

Imagem é tudo. Dependendo da imagem que você apresenta, você se torna uma pessoa acima de qualquer suspeita, atraente, amiga, sábia, conselheira... e esta sou eu. Prazer em conhece-lo.

Mas não é apenas com imagens que se constrói um bom fake. O fake precisa ser uma pessoa real. Precisa de uma história de vida, de uma personalidade, gostos, preferências, crenças, sentimentos, desejos, vontades, obrigações, deveres, traumas, alegrias, tristezas, sonhos... e, claro, não podem ser os seus, afinal o fake serve pra você se preservar e não ter que falar de si mesmo com ninguém.

Bem, você deve estar imaginando que eu sei muito sobre o assunto. Sim, eu sou uma mestra em fakes. Algumas das minhas melhores amigas e até meu irmão tem meus fakes adicionados e conversam com eles. Eu os uso como teste para cada fake que eu crio. Se eu consigo enganar as pessoas mais próximas a mim, consigo enganar a qualquer um. Até hoje, eles nunca desconfiaram de nenhum dos meus fakes. Pelo contrário, eu soube de coisas através dos fakes que eu nunca saberia de outra forma. O que minhas amigas pensam de mim, de quem elas gostam na escola, pequenos delitos cometidos... Por Deus, eu já levei uma proposta indecorosa do meu próprio irmão! ISSO é traumático!

Criar fakes faz parte da minha vida, e eu até mesmo ganho algum dinheiro de empresas que precisam de alguns deles para publicidade. No entanto, minha especialidade não são fakes de internet. São fakes da vida real.

Pense um pouco. Fakes não são uma novidade que surgiu com as redes sociais da internet. Eles sempre existiram em qualquer tipo de sociedade em que pessoas precisem se sentir aceitas. Sempre houveram pessoas que fingem ser aquilo que não são para ganhar um pouco mais de crédito e atenção. Quem nunca simulou um pouco, fingiu gostar de algo que não gosta, riu de uma piada sem graça? Alguns mais que outros, é claro, mas a verdade é que vivemos em um mundo fake.

Essa é minha habilidade especial. Eu entendo e decodifico as pessoas, suas ações e pensamentos até alcançar a mais oculta motivação. Eu não posso ler mentes, mas sei como o Matt Parkman se sente. É difícil conviver com alguem que voce sabe que está sendo falso com você.

A menos que você tire proveito disso. Eu tirei.

Se sou sincera com alguém? O que você faria se pudesse ser qualquer um, a qualquer momento? ;)

Não me censure. Eu não sou a responsável por isso. Tudo o que o mundo que me cerca me ofereceu foram pessoas falsas. Tudo o que eu fiz foi devolver a falsidade, só que de forma mais sofisticada e competente. Por causa da minha habilidade, isso foi tudo o que pude aprender das pessoas. Qualquer outro ensinamento que tentaram me passar, por mais moralmente correto que fosse, foi obscurecido pelo manto de falsidade e hipocrisia que o acompanhava.

É isso que eu sou. Um dopleganger moderno. Se você me perguntasse quem eu sou de verdade, acho que nem saberia responder ^^

Mas a razão de criar este blog é por causa dele.

No inicio do ano, um aluno foi transferido para minha turma de ética, na faculdade de direito. Vamos chamá-lo de Victor. Ele parecia ser o típico cara anti-social e relaxado. O modo de andar, o modo de ajeitar com as mãos os cabelos escuros e lisos, de falar, de gesticular, escrever, comer, tudo era muito arrogante e, ao mesmo tempo, despretensioso. E, como todos com este perfil, parecia muito falso, um clássico fake escolar do tipo que finge não ter preocupações. No entanto, mesmo sem demonstrar interesse nos estudos, sempre sabia de tudo. Eu senti o perigo da concorrência quando ele entrou na sala e começou a ser cercado por colegas e suas mal-disfarçadas intenções de tirar proveito do novo candidato a aluno do ano. Admito, foi uma sensação inédita de insegurança. Afinal, desde a quinta série, eu sempre fui a primeira da classe e todos os que disputavam comigo logo desistiam e se tornavam meus amigos e bajuladores. Eu sempre fui alguém agradável – ou ameaçadora, dependendo da situação – a ponto de ninguém desejar se tornar um rival por muito tempo.

Mas dessa vez foi diferente. Eu pude ver, através da forma como Victor se sentava displicente, escrevendo sem olhar para o professor durante a explicação, que ele não precisava se concentrar nos estudos para aprender. Não que ele já soubesse a matéria; isso eu pude perceber. Ele era do tipo capaz de fazer três coisas ao mesmo tempo sem nenhum esforço. Observando o modo como ele explicava aos que tinham dúvidas após as aulas, notei que Victor possuía uma incrível habilidade de compreender a dificuldade dos outros. Sua explicação era tão simples e esclarecedora que nos fazia preferir ele ao professor. Seus olhares eram sempre despretensiosos e, muitas vezes, vagos e distantes, sem expressar nenhum desejo ou objetivo. Enquanto era cercado pelos colegas de classe, tinha sempre o queixo apoiado na mão fechada, os pés e joelhos voltados para a porta. O tom de voz era sempre baixo e sem muita emoção. Foi isso que começou a me intrigar.

Apesar da popularidade na turma de ética, durante vários dias, nos intervalos, eu o via sozinho fumando debaixo da única árvore que existe atrás da quadra de futebol. Por que ele não aproveitava sua aceitação para ganhar a lealdade de todos? Eu me senti perturbada e cada vez mais confusa. Alguma coisa naquele rapaz não estava certa, alguma coisa era muito fora do normal. E para tornar meu incômodo ainda mais intenso, ele olhava para mim de um modo que ninguém nunca jamais olhou antes. Quero dizer, as pessoas normalmente não me olham nos olhos, nem me observam, porque eu me imponho sobre elas e as intimido. Mas ele, ao passar os olhos nos meus, ainda que de relance, parecia me decifrar, quase da mesma forma que decifro os outros. De repente, me senti indefesa, nua, exposta.

E o pior era ele me olhar sempre com indiferença, pelo canto dos olhos, como se eu fosse uma existência a ser ignorada. Eu era uma presa fácil. Não, eu era apenas um objeto na paisagem, sem nenhuma importância. Pela primeira vez, eu era desprezada.

Eu chorei lágrimas de ódio por isso.

Então eu percebi o que ele tinha de tão diferente: ele, em todas as suas ações, falas e gestos, era total e completamente sincero e sem intenções ocultas. Não havia sequer um traço de falsidade ou mentira, nada que estivesse ocultando ou dissimulando. Não possuía nenhum plano de conquistar a amizade ou lealdade de alguém em troca de sua ajuda. Ele era simplesmente aquilo que víamos, nada além.

Ele era uma abominação. E desafiava minha existência!

Era pior do que a concorrência que eu temi no início. Não era meu status que estava em risco. Era minha própria razão de viver do modo que vivo que estava ameaçada. Percebi que enquanto alguém como ele existir, a vida que construí não fará sentido. Afinal, eu construí toda a minha vida baseando-me no fato de que não existe honestidade no mundo. Ele contrariava essa minha convicção. Já é tarde demais para eu mudar, mesmo se eu quisesse, então decidi que, para continuar sendo quem eu sou, preciso fazer com que ele deixe de ser quem é.

E foi aí que a minha vida começou a desmoronar.

Fim do primeiro capítulo.


Próximo capítulo >>

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Declaração ao Leitor Desconhecido

"Adiante! Pelos caminhos maus, se não houver outros; pelos bons, se for possível. Mas adiante, apesar de todos os obstáculos para conseguir o objetivo"
(Charles Dickens)

Este blog marca uma nova fase da minha vida. Ele é o resultado da minha decisão de escrever para você, meu leitor desconhecido.

Quando eu descobri os autores que mais tarde se tornariam meus maiores ídolos (Alan Poe, Dickens, Mary Sheley, Conan Doyle, Stephen King, Júlio Verne, Shakespeare, por aí vai) começei a escrever compulsivamente, pois descobri nas letras um escape, uma fuga. Sempre fui meio perdida nessa vida. O período escolar costuma ser traumático para quem não se enquadra no sistema social dos adolescentes, e eu não me enquadrava. Tive diversos problemas, mas eu podia superar todos eles e dormir tranquila por causa da escrita, esse meu mundo onde apenas eu era convidada.

Fiz muitas descobertas nesse mundo, aprendi muitas coisas, me diverti e me emocionei. Lá, eu podia ser eu mesma, mas uma versão idealizada e até mesmo infantilizada. Nada do que me orgulhar, mas também nada do que me arrepender. Entretanto, é hora de crescer e tomar a decisão que estive adiando há tempos.

Esse ano começei escrever histórias para divertir leitores. Abandonei minhas antigas "tecnicas"  e "vicios" literários - a maioria absorvidos de escritores muito antigos - para escrever textos simples e populares, com uma linguagem que alcançe até mesmo os que não estão acostumados a ler. Embora eu sempre procure praticar o que meu amigo Angel in Tears diz sobre uma historia precisar de algo a dizer, não tenho muitas pretenções, além de divertir você - e ficar famosa por isso, claro xD

Com tudo isso, quero apenas dizer: Este blog é para você. Faça dele o que quiser. Foi feito pensando em você, pois eu amo você. Não espero ser amada de volta. Espero apenas que me dê sua mão e uma chance de vir comigo ver o que tenho para lhe mostrar.

Vamos?