terça-feira, 27 de abril de 2010

Fake Me - Capítulo Três

Posted by: Mari
Date: terça-feira, 27 de abril, 2010
Playing Now: Hoobastank - Did You? (tradução)

Uma das minhas técnicas favoritas para começar a elaborar a personalidade de um fake na vida real é utilizar os signos. Eles nos dão verossimilhança no comportamento entre diferentes áreas da vida. E eu precisava de um novo fake para atuar no ambiente univesitário.

Faculdade e colégio diferem muito nos pré-requisitos para conquistar o topo da popularidade. Ser um aluno dedicado é muito mais bem visto no campus universitário. No colegial, o que mais vale é a lealdade entre amigos e a capacidade de proporcionar diversão - principalmente envolvendo a violação de regras da escola. Enquanto os alunos de ensino médio aproveitam seus últimos anos de irresponsabilidade e despreocupação, repudiando atitudes excessivamente nerds ou sérias, o universitário já passou com sucesso pelo ritual do vestibular, que marca a transição da criança para o futuro profissional.

Esse processo – vestibular – como ritual que se preze, altera a consciência de qualquer um. Os valores impostos são outros. O desejo de aprendizagem, dedicação, liderança e seriedade, temperados com "diversão-anti-estresse" entre amigos, são os mais prestigiados na universidade.

Eu deixei tudo para a última hora. Improvisadora que sou, nunca me preocupo com decisões a tomar antes do tempo. Por isso escolhi o meu curso apenas no dia da inscrição para o vestibular. Eu já estava cansada do espírito fanfarrão da minha turma – sério, éramos do tipo que ficava de recuperação por faltas e só passávamos de ano porque eu sempre tinha colas para distribuir. Mas era entediante. Eu queria algo desafiador e inusitado. E claro, algo onde pudesse me destacar e dominar. Escolhi o curso de Direito porque o discernir é minha principal habilidade – e, como dizem, “o advogado é o homem do discernimento”. Conviver com pessoas que se julgam igualmente competentes nessa especialidade me pareceu desafiador.

Então decidi fazer o mais respeitável e amistoso fake, capaz de se relacionar todos com quem tivesse contato. Na faculdade é relativamente mais fácil, pois o espírito de competição velada cria por si só o ambiente propício para a falsidade. É o meu terreno e estaríamos todos em pé de igualdade, não fosse minha capacidade anormal.

Por esses motivos, escolhi criar meu "novo eu" com o signo de Virgem.

Mas eu tinha um desejo que percebi apenas no meu primeiro dia de aula. Eu queria conhecer alguém como eu. Depois de tanto tempo criando fakes sem nunca ser desmascarada, eu queria encontrar alguém que pudesse me ver como realmente sou e realmente me desafiasse a discernir-lo. Não que eu estivesse emotiva ou solitária. Eu queria um concorrente à altura. Estava entediada.

Não demorou até que encontrasse pessoas que queriam competir comigo. Indiretamente, a princípio, claro. Mas era nítido que algumas das pessoas quem se aproximavam de mim tinham o propósito de ganhar minha confiança enquanto mediam minha capacidade. No entanto, Laura foi a única que ofereceu alguma competição.

Laura é uma garota que desde o primeiro dia de aula na faculdade competiu comigo indiretamente. Aos olhos de todos, somos amigas e nos divertimos e estudamos juntas, mas eu sei que ela quer ser o destaque e, no fundo, ela me inveja e disputa comigo. E por ser linda e naturalmente desinibida, chama mais atenção dos rapazes que eu. Também é inteligente e se destaca nos trabalhos e decisões em grupo, sendo cotada para representante da turma. Ela sozinha é imcapaz de me superar ou fazer muito contra mim. Mas ela é influente e muitas garotas dão ouvidos ao que ela diz.

Embora eu sempre esteja um passo à frente, ela sempre surge em seguida, as vezes causando uma impressão mais forte. Ela é uma pedrinha no sapato que eu adoro pisar, mesmo que me machuque. Acho que ela também sente isso e permite que eu pise apenas para me perfurar um pouco mais.

Por isso ela procurou ganhar a atenção de Victor assim que percebeu meu ódio por ele. E como Aline tornou público a idéia de que Victor estava contra mim, Laura precisava estar ao lado dele.

Naquele dia, em que Victor me fez perder o controle, eu deixei de ir ao shopping com Aline, como havia prometido. Disse que estava me sentindo mal pelo que Victor fez comigo e que queria ir embora. Bem, isso não foi mentira.

Cheguei em casa desejando imensamente passar a noite inteira sozinha, na frente da tv tomando sorvete de chocolate. Não para me distrair; fazer coisas que nunca faço me ajuda a pensar.

Quando meu irmão chegou, dei um suspiro de desânimo, como quando alguem interrompe um momento precioso. Eu normalmente odeio ele quando preciso ficar sozinha. Pensei em ir para o meu quarto antes que ele comecasse a brigar pela tv - ele tem sua propria televisão no quarto, mas a tv de plasma é onde gosta de jogar seu X-Box. Mas, por um momento, olhei para ele e vi que também teve um dia ruim.

Ele se sentou do meu lado e ofereci sorvete.

"Você sabe que qualquer problema que tiver na escola, é só me falar que eu resolvo imediatamente, né?" Perguntei. Ele fez que sim.

Ficamos ali, assistindo um programa inútil e comendo a noite toda. Foi o tempo mais agradável que tive com ele desde o vestibular. Em dias assim, eu não vejo mais ninguém.

Fim do Capítulo Três


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2 comentários:

Maria Alice disse...

Muito bom seu conto, Pri!
Conheci seu blog semana passada, li os 2 capítulos do conto e já fiquei ansiosa pelo próximo!!
Ai, to muito curiosa para saber o que o J. vai fazer com a Mari :D
Boa sorte com o blog e continue escrevendo e postando pra gente!!
Ah, as músicas tbm são ótimas!! Adorei a idéia da trilha sonora... hihihihi.

PsychoPris disse...

Obrigada, Maria Alice :)
Ah, aguarde que o J. (na verdade é Victor, já corrigi o erro) vai mostrar as garrinhas em breve ^^
Ou não xD

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