terça-feira, 20 de abril de 2010

Fake Me - Capítulo Dois

Posted by: Mari
Date: terça-feira, 20 de abril, 2010
Playing Now: Flyleaf - Breath Today (tradução)

Se você quer ter um fake para conseguir algo das pessoas, a primeira coisa com que você deve se preocupar é no que você - ou melhor, seu fake - representa para elas. Você precisa ser importante para as pessoas de quem quer algo. Quanto maior e mais complicado for seu objetivo, mais importante você precisa ser para os outros. Construa essa importância antes demonstrar aquilo que você realmente quer.

Invista um tempo conhecendo essas pessoas. Quando souber o suficiente a respeito delas, você precisa dar algo que elas querem. Sempre. Assim, você se torna alguém importante. Quanto mais eles quiserem algo de você, mais dependentes eles se tornam. Alimente essa dependência, deixe que eles se viciem em você até chegar ao ponto de você ser completamente indispensável ;p

Eu conheço Aline - vamos chamá-la assim - há cinco anos. Ela sempre foi a garotinha tímida e desajeitada, apesar de ser muito bonita e de ter uma família rica. Até os dezessete anos, ela tinha as pernas muito compridas, por isso sempre tropeçava em si mesma, fazendo todos rirem. Tudo isso a fazia o alvo favorito das meninas invejosas ou simplesmente más, mesmo o fato de ser rica.

Eu a conheci quando ela foi transferida para minha turma, na sétima série. Ela se sentava exatamente no meio dessas garotas que a maltratavam. Eu sempre tive o respeito de todas elas, mas as enfrentei e me tornei amiga da Aline. Era tudo o que ela precisava.

E era tudo o que eu precisava para ter uma aliada fiel já que as outras eram orgulhosas e ambiciosas demais para abrir mão da auto-suficiência.

Aline se tornou dependente da minha amizade. Como sua melhor amiga, dei tudo o que podia para ela se sentir bem, à vontade, até que pudesse ser ela mesma quando estávamos sozinhas. Era notável que ela poderia ter e fazer qualquer coisa, não fosse sua timidez e insegurança, mas isso eu não podia deixá-la saber. E quando prestei para a faculdade de Direito, ela foi comigo, pois não conseguia se imaginar fazendo um curso diferente do meu. Mas como esperado, ela não passou.

Todos os dias ela vem me visitar no campus, na hora do intervalo, e almoçamos juntas ou bebemos no centro de convivência, falando sobre o próximo vestibular que, com certeza, ela passaria. Não estaria na minha turma, mas poderíamos passar mais tempo juntas.

É culpa minha Aline odiar Victor. E juro, não foi totalmente intencional. Eu queria apenas ver a reação dela, e não gerar um ódio tão intenso.

Era fim de tarde e estávamos tomando cuba libre no centro de convivência. Como não temos bebida alcoólica no campus, a Aline levava o whisky para a mistura. Ela havia mudado o corte de cabelo e usava uma franja parecida com a minha. Vestia jeans e camisa branca lisa.

Conversávamos sobre a Teoria Pura do Direito. Era notável - para mim, claro - como ela se entediava com o assunto, mesmo tentando demonstrar todo o entusiasmo do mundo. Sorria e balançava a cabeça concordando, mas os olhares desviando e acompanhando qualquer movimento ao redor me deixaram claro que era hora de começar um assunto mais interessante.

Naquela tarde eu estava profundamente irritada com Victor. E naquele exato momento, o próprio apareceu no centro de convivência, com aquele irritante jeito despretensioso, ignorando os convites para se juntar nas rodinhas. Ele havia há pouco tempo me olhado durante meu discurso para representante da turma. Não foi um olhar comum.

Eu tinha escrito o discurso logo na primeira semana de aula, tendo certeza de que seria indicada por alguém. É muito melhor do que se candidatar. Fui indicada e minha apresentação foi perfeita, exceto pelo nervosismo que Victor me causou. Era como se a cada sentença, a cada vírgula do meu discurso, ele fosse capaz de olhar através das minhas máscaras e, com o olhar, dissesse:

“Você está mentindo”

Por causa disso, pela primeira vez, fiquei nervosa em um discurso. E, talvez, pela primeira vez uma eleição minha como representante estava comprometida. Auto-confiança sempre foi meu maior trunfo e eu a perdera.

Olhar para Victor ali, no centro de convivência, me encheu novamente de ódio. Ele era menos que um rato, precisava ser extirpado, e rápido!

Então “contei” à Aline como ele me “humilhara” durante meu discurso. Inventei as mais descabidas histórias de como ele riu e zombou de minhas boas intenções de melhorias para nossa turma. Eu não sei o que eu esperava que fosse acontecer. Aline não era nem mesmo aluna da faculdade, não iria fazer muita diferença dizer aquilo a ela. Mas talvez fosse um bom treino para minha historia, poderia contá-la a outros depois. Me empolguei e até me descontrolei um pouco exagerando nos detalhes. E, claro, chorei. Sempre fui boa em chorar.

Nessa hora vi uma Aline que não conhecia. Ela ficou enfurecida, foi até ele com o copo de cuba libre e gritou:

“Quem lhe dá o direito de maltratar minha amiga? Se você magoa-la de novo vai se arrepender de ter nascido".

Depois disso, jogou a bebida no rosto dele.

Todos ali, muitos da minha turma, olharam para Victor, com reprovação. Depois olhavam para mim apiedados. Eu era a vítima, ele o vilão.

Eu sorri de leve. Acho que foi só então eu percebi o quanto Aline me é fiel. Ela ainda me seria muito útil, principalmente se passasse para Direito. Algumas garotas vieram se sentar conosco e Aline acabou se tornando um tanto popular por sua coragem e lealdade à sua amiga.

Victor se levantou bruscamente, parecendo estar a ponto de agredir Aline e ficou imóvel. Todos olhavam para ele, assustados, os mais próximos esperando se seria necessário interferir em uma possível briga. Mas nada aconteceu, Victor olhou para ela de cima a baixo e saiu andando, tranqüilo, como sempre.

Ele não era mais tão popular por sempre preferir ficar sozinho. Ninguém gosta de ter convites recusados ou de pessoas explosivas. Ele estava se fazendo ser ignorado, e para ele, não havia problema algum nisso.

Então, eu faria com que fosse odiado.

Fim do segundo capítulo


<< Capítulo anterior | Próximo capítulo >>

2 comentários:

Lucas Hikaru disse...

Puxa, coitado do Victor XD
Tô adorando a história! ^^

Unknown disse...

Eu tenho medo desse povo todo >.<

Postar um comentário